domingo, 9 de agosto de 2009


Autopsicografia
(em Cancioneiro)

O poeta é um fingidor
Finge tão completamente
Que chega a fingir que é dor
A dor que deveras sente.

E os que lêem o que escreve,
Na dor lida sentem bem,
Não as duas que ele teve
Mas só a que eles não têm.

E assim nas calhas de roda
Gira, a entreter a razão,
Esse comboio de corda
Que se chama coração.

(Fernando Pessoa)

Vocabulário:
1 Autopsicografia: análise psicológica de si mesmo. A palavra é composta por auto (do grego autós, “de sim mesmo”, “por si mesmo”) e psicografia (do grego psyché, “intelecto”, “espírito”, “alma” + graphein, “escrever”, “descrever”)
2 Deveras: de fato, realmente, verdadeiramente.
3 calhas de roda: trilhos.
4 comboio: conjunto de veículos; comboio de corda seria um brinquedo com mecanismo movido a corda.


1. A primeira estrofe de “Autopsicografia”, Fernando Pessoa trabalha com um jogo de palavras. Que palavras são essas? Que idéia o autor nos transmite?

2. A poesia afirma que o poeta sente duas dores (terceiro verso da segunda estrofe). Explique quais são elas e com se manifestam.

3. Na segunda estrofe temos vários verbos, alguns no singular, outros no plural (lêem, escreve, sentem, teve, têm). Interprete os vários sujeitos substituindo os pronomes por substantivos.

4. Qual a relação estabelecida entre o poeta e os leitores?

5. Explique a relação estabelecida entre coração e razão, na última estrofe.


Obs.: As respostas, por serem subjetivas não deverão ter o mesmo teor (mesmo texto) aos comentários dos outros colegas de estudo, tornando anuladas as observações em que haja proximidade textual. Comentários, dúvidas, críticas ou elogios, favor usar o blog, mas para as respostas, enviar diretamente ao e-mail: leonildoleal@hotmail.com até às 19h do dia 11 de agosto de 2009 (quinta-feira). Caso não consiga responder todas as questões, enviar pelo menos aquelas já respondidas. Se não conseguir executar o trabalho através do site/e-mail. Esteja munido(a) das informações, pois haverá um debate, em sala, na quarta-feira (12 de agosto de 2009).

BIOGRAFIA DE FERNANDO PESSOA



FERNANDO PESSOA'S




Fernando Antônio Nogueira Pessoa nasceu em Lisboa em 13 de junho de 1888. Faleceu na mesma cidade em 30 de novembro de 1935. Perdeu o pai, Joaquim de Seabra Pessoa, em 1893; dois anos depois, a mãe casou-se com João Miguel Rosa, cônsul português em Durban, África do Sul. De 1896 a 1905, Fernando Pessoa viveu na África do Sul. Lá, freqüentou a high school de Durban e recebeu o prêmio Rainha Vitória de estilo inglês em 1903, no exame de admissão à Universidade do Cabo da Boa Esperança. Em 1905, fixou-se em Lisboa, onde se matriculou no Curso Superior de Letras, logo abandonado. Passou a trabalhar como tradutor e correspondente estrangeiro em diversas casas comerciais; ao mesmo tempo, dedicou-se profundamente à literatura, participando da publicação de várias revistas literárias - entre as quais Orpheu – e publicando alguns trabalhos em inglês e português. Em 1934 o livro poema Mensagem recebeu o prêmio de “segunda categoria” do Secretariado de Propaganda Nacional.
A obra de Fernando Pessoa até hoje não foi totalmente publicada: o escritor deixou cerca de 27 mil papeis – muitos deles ainda inéditos – guardados num baú. Sua produção apresenta um conjunto muito amplo de textos, publicados sob o seu próprio nome (a parte de sua obra que é tradicionalmente chamada de “ortônima”) ou sob o nome dos diferentes escritores que ele criou (a chamada obra “heterônima”). No Brasil, as edições mais completas são a Obra poética, em um volume (que contém, entre outros: Mensagem. Cancioneiro; Poemas completos de Alberto Caeiro; Odes de Ricardo Reis; Poesias de Álvaro de Campos; Poemas dramáticos; Poemas ingleses; Inéditos; Novas Inéditas; Poemas traduzidos; Quadras ao gosto popular) e a Obra em prosa, também em um volume (que contém textos de crítica e análise literária – incluindo de auto-análise -, textos sobre estética, filosofia, política, comércio, além de alguns trabalhos de ficção). Também se pode encontrar o Livro do desassossego – por Bernardo Soares.